domingo, 22 de novembro de 2009

Sintra - Roteiro Queirosiano



Eça de Queirós utilizou como fonte de inspiração para algumas das acções descritas nas suas obras ambientes da Sintra oitocentista, em Alves e Companhia, A Correspondência de Fradique Mendes, O Primo Basílio, A Tragédia da Rua das Flores e Os Maias, podemos encontrar magníficas descrições dos locais e da atmosfera que se vivia nesta vila cortesã e que hoje nos permite realizar passeios pelo Centro Histórico da Vila Velha (antigo Passeio Público), num caminhar tipicamente romântico, temperado por uma arquitectura natural e humana ímpares, relembrando os passeios das personagens daquelas obras.

Carlos da Maia conduz-nos na busca do seu amor impossível por Maria Eduarda do " passo de Deusa maravilhosamente bem feito (...) dos cabelos doirados (...) dos olhos escuros e profundos". O Maestro Cruges, por seu turno, desperta-nos o interesse pela Sintra das queijadas e da manteiga fresca, dos passeios clássicos à Pena, à Fonte dos Amores, à Várzea de Colares para nela barquejar.

Pelo caminho, o recordar da Vila Velha, com o seu mercado e três dos seus hotéis: «O Nunes» "das pandegas fáceis", o «Vitor» funcionando também como uma espécie de Casino, e o «Lawrence», o mais antigo da Península Ibérica e o mais requintado de Sintra.

Por fim, a Estrada Velha de Colares, com a água da Cascata dos Pisões, o musgo dos muros que a ladeiam, e os palácios e jardins das belas quintas; o encontro com Alencar, poeta ultra-romântico, a lembrar os "mil ais" soltados no Penedo da Saudade, envolto nas suas lendas de moiras e cruzados, e escondido pelo Palácio de Seteais. E é na rampa, para lá do arco que une os dois corpos do Palácio, que podemos observar um belo quadro retratado por Eça, numa das mais belas passagens da sua obra:

"No vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava, à luz rica da tarde, um quadro maravilhoso, de uma composição quase fantástica, como a ilustração de uma bela lenda de cavalaria e de amor, Era no primeiro plano o terreno, deserto e verdejante, todo salpicado de botões amarelos; ao fundo, o renque cerrado de antigas árvores, com hera nos troncos, fazendo ao longo da grade uma muralha de folhagem reluzente; e, emergindo abruptamente dessa copada linha de bosque assoalhado, subia no pleno resplendor do dia, destacando vigorosamente num relevo nítido sobre o fundo do céu azul-claro, o cume airoso da serra, toda a cor de violeta-escura, coroada pelo Palácio da Pena, romântico e solitário no alto, com o seu parque sombrio aos pés, a torre esbelta perdida no ar, e as cúpulas brilhando ao sol como se fossem feitas de ouro (...)".

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