domingo, 22 de novembro de 2009

Sintra



EM 1992, a UNESCO alargou as categorias do Património Mundial e acrescentou a de Paisagem Cultural que se divide, ela própria, em três sub-categorias.
Pode parecer difícil definir claramente e delimitar uma paisagem que inclui sítios diversos ligados por um carácter geral comum. De resto, uma paisagem nunca é estática; ao contrário, ela está sempre sujeita às mudanças o que a torna difícil de preservar. É sobretudo o caso das paisagens culturais, testemunhos do cunho humano, sempre dinâmico, mas permitindo também que os elementos naturais sigam os seus ritmos biológicos próprios.
A candidatura de uma paisagem cultural para inclusão no Património Mundial exige uma mistura excepcional de sítios naturais e culturais num quadro exemplar. A Serra de Sintra corresponde-lhe de uma forma convincente. Vista de longe (ou a partir de uma fotografia aérea) ela dá a impressão de uma paisagem muito mais natural que se distingue bem dos arredores: uma pequena cadeia montanhosa granítica coberta de florestas, elevando-se da região rural (também ela entrecortada por montes e vales) entre Lisboa e o litoral. Vista de mais perto e percorrendo-a, a Serra revela marcas culturais de uma riqueza surpreendente, cobrindo vários séculos da história de Portugal.
Esta história irradiava da velha vila de Sintra, escolhida como lugar de um palácio real medieval, beneficiando de uma situação climática muito específica no país (e mesmo relativamente à região mediterrânica): verões frescos e invernos doces e soalheiros. A Corte e os nobres do país estabeleciam-se em Sintra e nas vertentes Norte da Serra, ao longo das quais foram erguendo sumptuosas villas e quintas rodeadas de jardins e parques de estilo artístico e de uma flora luxuriante. Por outro lado, a solidão da Serra e suas florestas atraíam monges e eremitas que a enriqueciam de conventos e de ermitérios introduzindo-lhe o aspecto religioso-cultural.
O apogeu deste desenvolvimento extraordinário da paisagem de Sintra foi atingido com o reinado de D. Fernando II da dinastia Saxe-Cobourg-Gotha (1836-1885). Muito ligado a Sintra e à sua paisagem pelas quais nutria um grande afecto, este rei-artista implantaria aqui o romantismo de uma forma esplêndida e única para as regiões mediterrânicas. O rei adquiriu o Convento da Pena situado sobre uma montanha escarpada e transformou-o num palácio fabuloso e mágico, dando-lhe a dimensão máxima que apenas um romântico de uma grande visão artística e de uma grande sensibilidade estética podia sonhar. Este antecipa, por assim dizer, o célebre Castelo de Neuchwanstein erigido por Luís II da Baviera. Além disso, D. Fernando II rodeou o palácio de um vasto parque romântico plantado com árvores raras e exóticas, decorado com fontes, de cursos de água e de cadeias de lagos, de chalets, capelas, falsas ruínas, e percorrido de caminhos mágicos sem paralelo em nenhum outro lugar. O rei tomou também o cuidado de restaurar as florestas da Serra onde milhares de árvores foram plantadas, principalmente carvalhos e pinheiros mansos indígenas, ciprestes mexicanos, acácias da Austrália, e tantas outras espécies que contribuem perfeitamente para o carácter romântico da Serra.
Assim evoluiu na Serra de Sintra uma paisagem cultural de um valor eminente e singular. Do ponto de vista mais natural, associa componentes das floras mediterrânicas e setentrionais a centenas de árvores e flores exóticas num quadro de jardins, parques e florestas verdadeiramente único.
Merecidamente, Sintra foi classificada Património Mundial, no âmbito da categoria “Paisagem Cultural”, no dia 6 de Dezembro de 1995, durante a 19ª Sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO realizada em Berlim.



In "Sintra Património da Humanidade"

Sem comentários:

Enviar um comentário